Menino aos 38, Rivers Cuomo volta com sexto disco do Weezer.
Banda norte-americana retorna com temáticas adolescentes.
"The Red Album" tem produção de Rick Rubin (RHCP) e Jacknife Lee (U2).
Três anos depois de "Make believe", considerado por alguns como o mais fraco do Weezer, a banda de Rivers Cuomo lança seu sexto álbum de estúdio. "Weezer", que já está sendo chamado de "red album" em referência à sua capa vermelha, chega às lojas dos Estados Unidos nesta terça-feira (3). Produzido por Rick Rubin e Jacknife Lee, o disco segue a conhecida cartilha de Cuomo - riffs de guitarras distorcidas + letras adolescentes - com uma boa dose de ironia e algumas pontinhas de ousadia aqui e acolá.
"Troublemaker", faixa que abre o disco, é dessas típicas "weezerianas": começa com guitarra e voz, vai ganhando bateria e baixo num crescendo, até o refrão explosivo. E trata - como tantas outras composições de Cuomo - de um moleque que não quer saber de livros, deixa o cabelo crescer, se entrega ao heavy metal e o resto é história.
Também têm gosto de já-te-ouvi, "Dreamin'", escrita do ponto de vista de um adolescente que precisa "aprender a ser responsável", e a baladinha "Heart songs", em que o frontman do Weezer faz a sua playlist das "canções que eu continuo cantando", com direito a Abba, DEVO, Iron Maiden, Slayer e, claro, Nirvana. "De volta a 1991 / eu não estava me divertindo / até que meu colega de quarto disse / venha e toque este novo disco / tinha um bebê na capa / e ele estava pelado..."
A faixa, pueril e sincera, tem uma estrutura cíclica: começa com Cuomo enumerando seus favoritos até se tornar, ele próprio, o autor da música que toca na rádio e que se torna a favorita dos fãs. Soa interessante, até que nos lembramos de "In the garage", faixa de temática semelhante que o Weezer gravou em seu "álbum azul"... 14 anos atrás.
Posicionada estrategicamente bem na metade do álbum, "Everybody gets dangerous" surpreende, com guitarras mais pesadas e batidas funkeadas, lembrando de leve o Red Hot Chili Peppers (Rick Rubin trabalhando). A temática, no entanto, é mais da mesma: como eram loucos aqueles tempos de menino, jogando ovos nos carros, papel higiênico molhado nas cercas, saindo na mão com os amiguinhos... "Deve haver um anjo da guarda / ou algum tipo de destino que temos / Porque deveríamos ter morrido um tempo atrás / do jeito que levávamos as nossas vidas", recorda o cantor, hoje quase quarentão e "salvo" por uma imersão profunda em seu lado espiritual ("Peace, shalom", repete no mantra caretão que fecha o álbum, "The angel and the one").
Mas este disco vermelho tem lá as suas boas surpresas, como "The greatest man that ever lived (variations on a shaker hymn)". Logo no início da faixa de 5'52 (longa para os padrões da banda), Cuomo encarna um rapper mulherengo e ególatra - "o mais mau dos maus" -, para depois mudar a voz para cantar em falsetes, ou acompanhado por um grande coral, por um piano, por sirenes de polícia ou mesmo por guitarras distorcidas à moda da casa. Por incrível que pareça, uma saborosa salada musical temperada por gangsta rap, hard rock, Beach Boys e Queen, que já está sendo chamada por alguns de "a 'Bohemian rhapsody'" do Weezer.
Ainda que melodicamente mais manjado, "Pork and beans", o primeiro single do disco, também traz o seu frescor. Senão pelo embrulho, por sua mensagem. Escrita em resposta à gravadora Geffen, que teria exigido do grupo um punhado de músicas "mais comerciais", Cuomo destila acidez: "Eu vou fazer o que eu quero fazer / não tenho nada para provar a você / (...) Timbaland sabe o caminho para chegar ao topo das paradas / talvez se eu trabalhar com ele eu possa aperfeiçoar a minha arte".
Porks and beans
Melhor que a música, ainda, é o clipe que a banda fez para "Porks and beans". Homenagem à cultura pop da web, que fez mais pela banda do que os beats pré-fabricados dos superprodutores, o vídeo é uma espécie de colagem com as principais celebridades da rede nos últimos anos (ou meses!): tem o carinha do "Numa Numa", Tay Zonday, cantor do hit do YouTube "Chocolate rain", Kevin Federline e seu "Popozao", uma paródia do meme "All your base are belong to us", as fontes de Diet Coke com Mentos e outros. Em pouco mais de dez dias no ar no YouTube, o clipe já é sucesso absoluto, com mais de 5 milhões de hits, e certamente ajudará a ampliar o impacto do novo disco para além do universo dos fãs do Weezer.
Mais generoso com as direções criativas do grupo - menos por seus 38 anos (a serem comemorados no dia 13) e mais, possivelmente, por ter gasto boa parte de suas fichas no recém-lançado disco solo "Alone: the home recordings of Rivers Cuomo" - o líder do Weezer divide os holofotes com o restante da banda neste álbum.
Em "Thought I knew", é o guitarrista Brian Bell quem canta; em "Cold dark world", o baixista Scott Shriner; e, em "Automatic", é a vez do baterista Pat Wilson assumir os vocais. Seja musicalmente ou nas letras, nenhuma delas chega perto do padrão de qualidade das melhores faixas do Weezer. O fato é que, mesmo sendo a mala sem alça que muitos o acusam de ser, Rivers Cuomo é a alma do Weezer, e esta não mudou muito desde os tempos do nerd que conquistou o mundo cantando a hoje antológica "Buddy Holly". Gostem dele, ou não.
texto: G1>Música
terça-feira, 17 de junho de 2008
THE RED ALBUM
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